A FLIP, Festa Literária Internacional de Paraty, terminou. Adoro o termo festa, que denota celebração, comemorar a literatura e seus autores, comemorar a cultura. Este ano, o homenageado foi Gilberto Freyre, que mesmo para aqueles não muito interessados em literatura, nos remete aos tempos de escola com sua obra Casa – Grande & Senzala.
Estive em Paraty em duas ocasiões, nenhuma para este evento. Duas ocasiões bem diversas: na primeira, em camping em frente à praia, desfrutamos de um céu carregado de estrelas que só as cidades litorâneas nos proporcionam; na segunda, já mamãe, ficamos em pousada perto do centro histórico e ali ficou mais evidente a grande presença de gringos na cidade. Em ocasião de Copa do Mundo, eles se sentiam bem à vontade falando seu idioma enquanto aproveitavam de um desjejum bem brasileiro. Desfilavam com a camisa da nossa seleção enquanto nos observavam comemorar os gols, sempre regados de cerveja e boa comida. Eram tempos de festa junina e pudemos nos juntar ao pessoal da cidade na praça central com barraquinhas e comidas típicas, e apresentações de quadrilhas e danças regionais com grupos premiados em outros festivais de dança. Em Paraty, tudo inspira arte e tradição, mas apenas para uma minoria de turistas e alguns nativos envolvidos em atender aos turistas.
Nessa pousada, tivemos bastante contato com os funcionários, pois precisávamos usar a cozinha para preparar refeições para Ana Luisa que ainda não podia comer em restaurantes, e pude matar minha curiosidade a respeito da FLIP: como é? Vem muita gente? Como é conviver com autores e ter a cidade repleta de celebridades?
O interessante foi perceber que eles não se importam. Para as pessoas da cidade, o evento significa apenas trabalho e movimentação para uma cidade de vida pacata. A maioria das pessoas conhece menos do local do que os próprios turistas e não aproveitam das festas e da cultura oferecida, parece, exclusivamente para quem vem de fora.
Como seria bom para a população o engajamento com a cultura local já que esta é uma das principais forças da cidade. Onde estão as políticas públicas de incentivo à participação da vida cultural de Paraty como forma de renda, como profissionais, para crescimento econômico e desenvolvimento social? Não seria unir o útil ao agradável ter as pessoas trabalhando com aquilo que atrai tantos turistas, inclusive de fora do país?
Assim como o próprio Freyre trata a influencia da formação sociocultural brasileira a partir da visão distinta da casa grande e da senzala, Paraty em toda a sua concepção e arquitetura inspiram o engajamento artístico, cultural, patrimonial... É uma pena que os próprios moradores não sejam os agentes dessa ação nem do efeito.
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